Nós mulheres integrantes da Rede Nacional Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos vimos de público manifestar a nossa posição frente aos recentes acontecimentos políticos ocorridos no Brasil.
Manifestamos nossa indignação e nosso sentimento da irreprimível necessidade de lutar pela normalidade democrática e pela continuidade do processo civilizatório do país e de seu povo.
Ao testemunharmos a conspiração que culminou no afastamento da Presidenta Dilma Rousseff é bom recordar a primeira frase de “O Processo” de Kafka – “Certamente alguém havia caluniado Josef K., pois uma manhã ele foi preso sem que tivesse feito mal algum”. E assim se deu. Uma presidenta que não tem nenhum crime comprovado para a deflagração de um processo de impeachment foi julgada por uma Câmara e um Senado, presididas por criminosos, acompanhados de dezenas de deputados federais e senadores portadores de fichas sujas, verdadeiros delinquentes a comporem um tribunal de exceção. O golpe foi cuidadosamente planejado e executado pelas forças mais conservadoras do Brasil. Ou seja, o capital rentista internacional, o empresariado parasitário, um poder judiciário letárgico e conivente, uma mídia hegemônica, representante do anti-jornalismo, meros ventríloquos de calúnias, intrigas e mensagens raivosas orquestradas pela classe dominante e pelos derrotados de 2014. Um dos objetivos foi instigar a exacerbação do ódio de classes e da misoginia o que extravasou nas ruas. Setores da população se apropriaram das cores da bandeira como se os símbolos nacionais fossem objetos a serviço da alienação e do analfabetismo político. Aflorou com força avassaladora o machismo, a agressão sem limites, a vulgaridade e a violência contra a maior autoridade do país, eleita legitimamente.
O espetáculo mais degradante, contudo foi o “show de horror” protagonizado pela Câmara Federal no dia 17 de abril e depois no Senado. Hoje aí está o novo governo. Um ajuntamento de homens brancos, ricos, conservadores, transpirando machismo, homofobia, autoritarismo. Ansiosos para se ajoelhar frente ao capital internacional, de entregar as riquezas que ainda restaram depois da “privataria tucana”, de exterminar todo e qualquer avanço das lutas sociais das mulheres, negros/as, LGBTs, camponeses/as, operários/as, quilombolas, jovens e oprimidos/as em geral.
Iniciaram as mudanças nos ministérios, os empresários e banqueiros já começaram a cobrar a fatura, os vassalos do golpismo apressam-se a obedecer. A infâmia é infinita, mas a nossa perseverança e resistência é maior.
Contra todo esse quadro triste e nefasto, contra essa conjuntura adversa e corrosiva é que nós, mulheres, mais uma vez nos manifestamos. Expressamos o mais profundo repúdio e repulsa aos traidores e usurpadores da legitimidade do governo da república.
Não ao golpe!
Não ao machismo e à misoginia!
Pela unidade das forças populares e progressistas!