Dia Internacional pela Saúde da Mulher e Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna 28 de MAIO

REDE FEMINISTA DE SAÚDE E ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMEIRAS OBSTETRAS DEFENDE MANTER E ACELERAR A VACINAÇÃO DE GESTANTES E O CUMPRIMENTO DO CHAMADO À AÇÃO PARA REDUÇÃO DA MORTALIDADE MATERNA POR COVID-19 NO PARANÁ E EM CURITIBA.

 

O contexto da pandemia é de conhecimento geral, com cerca de 450.000 mortes no Brasil, desde março 2020. Alertas sobre a Mortalidade Materna por Covid-19 foram consistentemente divulgados por pesquisadores e entidades desde julho do 2020,quando já se observavam 124 mortes maternas pela Covid, sem que medidas consistentes fossem implementadas para contenção destas mortes, pelo contrário, houve piora da atenção à saúde da mulher, à saúde materna e à saúde reprodutiva em todo o país.

Em abril de 2021 foi desenvolvido pela USP e UFES o Observatório Obstétrico Brasileiro COVID-19 (OOBr Covid-19), um painel dinâmico com análises dos casos de gestantes e puérperas notificados no SIVEP-Gripe, que permitiu identificar que agora o país contabiliza 1149 MORTES MATERNAS POR COVID -19 CONFIRMADAS, além de 264 MORTES MATERNAS POR SRAG NÃO ESPECIFICADAS, totalizando 1413 MORTES MATERNAS por COVID/SRAG em um ano de pandemia no Brasil.

São números alarmantes, considerando-se que ocorreram 1670 MORTES MATERNAS INCLUINDO TODAS AS CAUSAS OBSTETRICAS POR ANO em média, nos últimos 5 anos, configurando-se a necessidade de medidas urgentes para evitar mais mortes incluindo vacinação imediata de todas as gestantes e puérperas, buscando-se os impactos positivos da imunização ao evitar o agravamento dos casos e a consequente morte materna, fetal e mesmo neonatal.

O PARANÁ contabiliza 52 MORTES MATERNAS POR COVID 19, e mais 13 POR SRAG NÃO ESPECIFICADA, que devem ser Covid 19 não diagnosticada a tempo, totalizando 65 MORTES MATERNAS em cerca de um ano da pandemia segundo o OOBr, chegando próximo a MÉDIA DE 67 MORTES MATERNAS POR TODAS AS CAUSAS OBSTETRICAS ocorridas entre 2015-2019 (dados do SIM/DATASUS).

PARANA- MORTALIDADE MATERNA  SRAG COVID- 19  CONFIRMADA E NÃO ESPECIFICADA 2020 E 2021*

ANO SRAG-COVID CONFIRMADA SRAG-NÃO ESPECIFICADA TOTAL SRAG
2020 19 10 29
2121 33 3 36
PARANÁ 52

13

65

Fonte: OOBr Covid-19(*dados até 20/05/2021)

O percentual de mortes maternas por COVID 19 em relação as gestantes infectadas no Paraná foi o mais alto da Região Sul, com 10% de óbitos, nos dois outros estados foi 8%. Destaque-se que 18% não tiveram acesso a UTI e 31% não receberam intubação. O Paraná também apresentou número mais elevado de SRAG não especificada de gestantes da região(faltou testagem?). Curitiba contabiliza 4 óbitos maternos por COVID 19 e mais um óbito materno SRAG não especificado, com 4% de letalidade, o que certamente irá impactar na razão de mortalidade materna. (Fonte: OOBr Covid -19)

MORTALIDADE MATERNA, POR SRAG /COVID CONFIRMADA E NÃO ESPECIFICADA, REGIÃO SUL, E       CURITIBA BRASIL 2020 E 2021*

  COVID REGIÃO SUL SRAG NE REGIÃO SUL COVID**
PR RS SC PR RS SC CURITIBA
Nº CASOS 588 569 343 538 282 229 109
Nº FINALIZADOS 525 486 293 502 264 191 103
Nº ÓBITOS 52 41 24 13 9 3 4
% UTI 26% 28% 27% 14% 18% 12% 25%
% INTUBAÇÃO 13% 16% 14% 5% 11% 5% 12%
% ÓBITO 10% 8% 8% 3% 3% 2% 4%
% ÓBITO NA UTI 32% 30% 24% 12% 17% 5% 16%
% NÃO UTI DOS ÓBITOS 18% 3% 26% 27% 11% 50% 0%
% N INTUB. DOS ÓBITOS 31% 12% 36% 46% 25% 50% 25%

Fonte: OOBr Covid- 19 (*dados até 20/05/2021)(** Curitiba teve + 1 caso SRAG NE)

Os Comitês de Prevenção da Mortalidade Materna, que se encontram desmobilizados e fragilizados no país,   poderiam estar avaliando o perfil destas jovens mulheres, a assistência ofertada e as ações necessárias para evitar novos óbitos. As medidas tomadas pelos gestores têm sido insuficientes para conter as mortes maternas, e as recomendações de especialistas não são colocadas em prática na integra para reduzir a morbidade e mortalidade materna no Estado e no país, que já era alta antes da epidemia.

Sabe-se desde a metade do ano passado que as grávidas realmente pertencem ao “grupo de alto risco”, demonstrado em vários estudos no Brasil e no mundo, dentre eles o estudo publicado na revista médica British Medical Journal, que compilou dados de mais de 190 estudos sobre o assunto, realizados com quase 68 mil mulheres. O estudo indicou que a infecção em grávidas tem cinco vezes mais probabilidade de ser livre de sintomas, mas que há um risco mais de duas vezes maior em gestantes de que elas tenham que receber tratamento médico intensivo e ventilação artificial após uma infecção, do que as não gestantes. O risco de morrer de covid-19 também é muito alto entre grávidas.

Em vista da experiência positiva de outros países com a vacinação para gestantes e o alto risco conhecido de um curso grave após uma infecção pelo coronavírus, as sociedades ginecológicas especializadas defendem a vacinação de grávidas o mais rápido possível. Elas citam as autoridades sanitárias dos EUA. Segundo o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês), não há indícios de complicações na vacinação de grávidas.

O Ministério da Saúde no Brasil emitiu no final de abril uma nota técnica orientando que todas as grávidas e puérperas sejam colocadas no grupo prioritário para receber a vacina contra a covid-19. Em 15 de março, o governo já tinha incluído as gestantes com comorbidades.

Assim, a RFS referenda como altamente necessária a priorização de gestantes e apelamos para que os governos estadual e municipais façam campanhas nos meios de comunicação para que as grávidas e puérperas busquem tomar a vacina o quanto antes, dando preferência à vacina Pfizer e Coronavac, uma vez que a vacina Oxford/AstraZeneca está temporariamente suspensa, devido a investigação de um caso de óbito materno de gestante que recebeu esta vacina.

Por fim, considera-se que é indispensável a implementação de todas as onze medidas do CHAMADO À AÇÃO PARA REDUÇÃO DA MORTALIDADE MATERNA POR COVID-19 NO BRASIL, propostas pela Rede Feminista de Ginecologistas e Obstetras, para evitar mais mortes maternas no Paraná, que incluem:

  1. Informação, oferta e acesso a métodos contraceptivos –(muitos serviços de planejamento reprodutivo interromperam o atendimento).
  2. Campanhas específicas envolvendo informação e esclarecimento sobre os riscos da COVID-19 na gravidez e no pós-parto, incluindo o isolamento (sair somente para consultas e exames pré-natais ou motivos imprescindíveis), usar máscaras N95 e álcool gel.
  3. Reforço e aconselhamento das medidas de proteção individual nas consultas pré-natais.
  4. Garantir afastamento das gestantes de sua função laboral presencial em todo o país.
  5. Garantia de acesso ao pré-natal de qualidade, sem interrupção das consultas, sem “alta” do pré-natal.
  6. Renda mínima aceitável, justa e adequada para as gestantes que não têm trabalho formal, permitindo que possam ficar em casa.
  7. Distribuição gratuita de máscaras N95 para gestantes.
  8. Ampla testagem na porta de entrada das maternidades com testes rápidos moleculares.
  9. Testes para todas as gestantes e puérperas com sintomas ou contatos de pessoas com sintomas.
  10. Garantia de internação em UTI em instituições que garantam acompanhamento obstétrico de qualidade (sete dias por semana, 24 horas por dia), e acompanhamento pós-alta.
  11. Inclusão imediata das gestantes no grupo prioritário de vacinas (TODAS as gestantes e não somente aquelas com comorbidades) e vacinação célere da população.

Referências, Fontes:

– Observatório Obstétrico da Covid 19/ OOBR Covid-19https

http: //observatorioobstetrico.shinyapps.io/covid_gesta_puerp_br/

– Rede Feminista de Ginecologistas e Obstetras. Um chamado à ação contra a morte materna por COVID-19 no Brasil  http://estudamelania.blogspot.com/2021/04/rede-feminista-de-ginecologistas-e.html

– DW Noticias O que se sabe sobre a vacinação de grávidas contra covid 19

https://www.dw.com/pt-br/o-que-se-sabe-sobre-a-vacina%C3%A7%C3%A3o-de-gr%C3%A1vidas-contra-a-covid-19/a-57450087

-Takemoto MLS, Menezes MdO, Andreucci CB, Nakamura-Pereira M, Amorim MM, Katz L, Knobel R. The tragedy of COVID-19 in Brazil: 124 maternal deaths andcounting. Int J Gynecol Obstet. 2020; 151: 154-6. doi:10.1002/ijgo.13300.
» https://doi.org/10.1002/ijgo.13300

-ASR Souza MR Amorim. Mortalidade materna pela COVID-19 no Brasil – Artigos Especiais. Rev. Bras. Saude Mater. Infant. 21 (Suppl 1). Fev 2021. https://www.scielo.br/j/rbsmi/a/R7MkrnCgdmyMpBcL7x77QZd/?lang=pt